Ao Ritmo da Criatividade

Sempre achei que minha cabeça funciona como uma banda desorganizada que ensaia numa garagem. Às vezes, tudo soa incrível, outras vezes é só um monte de barulho. Mas com o tempo, percebi que organizar o raciocínio criativo não é muito diferente que compor uma música. Então, se a criatividade é um show, melhor aprender a conduzi-la como um maestro.

BPM – O Ritmo do pensamento

A primeira coisa que percebi é que meu cérebro tem BPMs variáveis. Às vezes, é um passada de 60 BPM, onde as ideias vêm devagar, tranquilas, como uma tarde de domingo. Outras vezes, é um drum and bass frenético, tipo 180 BPM, onde os pensamentos surgem rápido.

O truque aqui é ajustar o BPM conforme o contexto. Criatividade precisa de cadência: se estou muito acelerado, paro, respiro, desacelero. Se estou lento demais, ligo um som agitado, tomo um café e coloco essa mente para correr. Afinal, ninguém compõe uma sinfonia no caos nem cria um hit num marasmo total.

 

Ritmo – A constância do processo

Criar é manter um ritmo. Pode ser uma batida linear ou um groove quebrado, mas precisa haver repetição. Se eu espero a inspiração divina tocar minha testa, passo semanas sem produzir nada. Se crio uma rotina, mesmo que seja a rabiscar três ideias por dia, minha mente entra no compasso.

E, veja bem, ritmo não significa previsibilidade entediante. O segredo está em saber quando tocar recto e quando improvisar. Grandes músicos dominam o tempo antes de brincar com ele. Criatividade funciona do mesmo jeito.

 

Melodia – A identidade das ideias

Se o ritmo é a estrutura, a melodia é a assinatura. É aquela linha que faz sua ideia ser sua e não de outra pessoa. Pense numa canção inesquecível: o que a torna única? A melodia. Na criatividade, isso significa encontrar sua voz, seu jeito de pensar, de escrever, de desenhar e de criar.

O problema é que, às vezes, a gente quer ser tão original que esquece que boas melodias também se inspiram em outras. Não tem problema samplear referências. Todo artista faz isso. O perigo é copiar nota por nota e chamar de inovação. A arte está em remixar com personalidade.

 

Compasso – A organização das ideias

Já tentei ser espontâneo demais e criar sem estrutura. O resultado? Um solo de guitarra de 12 minutos sem refrão nem motivo. Ou seja, uma confusão mental que parecia genial na minha cabeça, mas não fazia sentido para ninguém.

Criatividade precisa de compasso. Separo as ideias em frases, dou pausas, respiro. Se um pensamento parece empacado, talvez precise mudar o tempo, experimentar um compasso diferente. Às vezes, uma ideia só faz sentido se encaixada no contexto certo.

 

Finalizar a canção

Criar é tocar música mental. Aprender a modular o BPM, manter um ritmo, encontrar uma melodia única e respeitar o compasso são formas de transformar caos em harmonia. Então, da próxima vez que sua mente parecer uma banda a ensaiar fora do tom, lembre-se: criatividade é uma questão de encontrar o groove certo.

 

E se tudo falhar, aumente o volume e comece a dançar.
— Ferrão Chico

Autor: Ferrão Chico


Adelium Castelo

Adelium Castelo é designer de comunicação, fotógrafo e actor. Co-editor da DEZAINE, co-fundador e director de projectos da DESIGN Talk. É licenciado em Design pelo Instituto Superior de Artes e Cultura - ISArC.

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