Amanhã Já Foi Ontem: A Publicidade na Era do Turbo

O mundo da publicidade e das marcas é movido por um conceito tão revolucionário quanto destrutivo: o imediatismo. Não se trata mais de "pensar no futuro", mas sim de atropelá-lo, empurrá-lo escada abaixo e exigir que ele nos traga um café enquanto se recompõe do tombo. O slogan do mercado não é "Queremos o amanhã", é "Queremos o amanhã, e hoje já queremos o depois". E assim seguimos, numa corrida desvairada onde a próxima tendência já nasce ultrapassada e a narrativa de uma marca tem a longevidade de um story de Instagram.

O problema? Bem, é que toda marca que deseja ser memorável precisa de uma história. E histórias precisam de tempo. Romeo e Julieta não teriam sido um clássico se Shakespeare estivesse sob briefing para entregar o drama em um tweet de 280 caracteres. Imagine uma reunião de brainstorming com a Apple nos anos 80: "Steve, esse papo de computar para todos é legal, mas tem alguma coisa viral e disruptiva para a semana que vem?". Não haveria iMac apenas uma péssima campanha de desconto em fliperamas.

Essa mentalidade de urgência eterna cria marcas que não se constroem, apenas reagem. E a cada nova onda, pulam de um lado para o outro tentando parecer relevantes. Hoje são sustentáveis, amanhã abraçam o metaverso, na quarta-feira vendem NFTs, e no fim da semana estão num reality show de IA. O público percebe? Com certeza. E nada destrói mais a credibilidade de uma marca do que o desespero para agradar todo mundo ao mesmo tempo, transformando-se num camaleão histérico com crise de identidade.

Como resolver isso? Simples (mas não fácil): parar de confundir velocidade com direção. Marcas precisam ter uma identidade clara, um discurso coerente e um compromisso com uma narrativa que sobreviva mais do que um ciclo de TikTok. Não se trata de ignorar tendências, mas sim de integrá-las de forma autêntica e consistente. A Nike continua sendo sobre superação, a Coca-Cola sobre felicidade e o McDonald's sobre fritura emocionalmente reconfortante. Elas podem modernizar sua linguagem, mas sua essência continua intacta.

Portanto, antes de entrar em pânico sobre o "depois de amanhã", que tal garantir que a sua marca ainda tenha alguma relevância amanhã? Porque, convenhamos, ninguém lembra daquelas marcas que viraram febre por um mês e sumiram. Mas todo mundo lembra daquela spot da mcel que exaltava o orgulho nacional. E isso, amigos, é construção de narrativa. Agora, se me dão licença, preciso ver qual é a nova tendência de hoje que já morreu antes do almoço.

Da autoria de: Ferrão Chico

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