SIMO Rede, um rebranding que desafia o uso dos ATMs

É comum que as marcas busquem aliar os seus produtos às suas cores institucionais, na perspectiva de garantir que sejam facilmente identificados. Esta facilidade de identificação pode ser instigada ao usuário recorrendo-se não só a cor institucional, mas também a formas gráficas, sons, cheiros, movimentos... e outras estratégias que activem no usuário a percepção do valor da marca a que está exposto. A este processo chama-se branding.

Com o passar do tempo e a migração de tendências de consumo ou por alguma motivação não exposta pela gestão da marca, pode-se decidir por reposicioná-la em todos os aspectos com vista a alcançar um objectivo imediato, temporário ou a longo prazo, recorrendo-se ao rebranding para satisfazer a esta necessidade.

 

Desde um passado muito recente, vários usuários de serviços da Sociedade Interbancária de Moçambique – SIMO, uma marca cujas cores variam de vermelho, verde, preto e amarelo, são expostos a algum período de dúvida aquando do manuseio de ATMs sob gestão da SIMO Rede, aparentemente por conta do mais actual rebranding feito. Uma transição visual feita não apenas na dimensão da disposição dos elementos na tela, mas também na cor adoptada para a tela principal, entendendo-se esta última como o factor principal para a tibieza no uso dos ATMs. No caso da SIMO Rede, se os usuários estavam habituados a uma tela verde para manusear conforme as suas necessidades, hoje estão expostos a uma tela vermelha para duvidar do uso conforme as suas experiências.

 

Tela antiga (verde) e actual (vermelha). Foto da tela recente: Eric Miguel

A nossa cultura visual em várias dimensões, desde o trânsito aos dispositivos móveis, nos sugere a assumir a cor verde como sinónimo do correcto, do autorizado, do pleno funcionamento e o vermelho automaticamente associado ao proibitivo, disfuncional, perigoso ou no mínimo um aviso de interrupção do ritmo normal de funcionamento, sobretudo quando nos expomos a dispositivos eletrónicos. Uma sensação que irá sempre variar certamente com a natureza do produto a que estamos expostos, na ideia de que talvez não tivéssemos a mesma reacção se nos deparássemos a um vermelho de algum produto da Coca-cola ou de qualquer outra marca ligada à restauração.

 

Na sua visão sobre design industrial, conhecimento aplicado também em outras áreas de design, Bernd Löbach sugere que o design está assente em três funções básicas, a considerar, a função prática, função estética e função simbólica, estando no nosso caso aparentemente em parte bem resolvida a função estética, a considerarmos pelo minimalismo adoptado na disposição de elementos gráficos e de informações importantes ao usuário. No entanto, embora esta esteja aparentemente resolvida, passa a sensação de que a função prática do ATM como um produto de design é comprometida pela parcial ineficácia da função estética aliada à função simbólica, a qual visualmente nos salta aos olhos, pela propositadamente ou não adoptada cor vermelha.

 

Entenda-se nesta abordagem a função simbólica na óptica de Bernd Löbach como o estímulo à que a nossa espiritualidade como seres humanos é exposta pela percepção que temos dos objectos à nossa volta que nos conectam com as nossas experiências passadas. Deste modo, se assumirmos que o vermelho do semáforo nos obriga a parar imediatamente a nossa marcha; que o vermelho no indicador da bateria do nosso telemóvel nos alerta sobre o perigo de desligamento por esgotamento e se assumirmos que o vermelho nos sinais verticais ao longo das estradas nos alerta sobre um provável perigo, é provável que a nossa reacção perante um monitor vermelho seja de dúvida sobre o uso, por mais que alguma informação favorável esteja lá escrita. A cor irá muitas vezes se sobrepor a qualquer outra informação e gerar a decisão de não usar o ATM sobretudo a quem esteja posicionado a uma distância maior em relação ao ATM.

 

Sobre as motivações do rebranding não se pode ainda tecer nenhuma consideração, enquanto não se tem um posicionamento formal da empresa, no entanto, pode-se de antemão questionar sobre o vermelho ser ou não uma opção funcional para este caso.

Adelium Castelo

Adelium Castelo é designer de comunicação, fotógrafo e actor. Co-editor da DEZAINE, co-fundador e director de projectos da DESIGN Talk. É licenciado em Design pelo Instituto Superior de Artes e Cultura - ISArC.

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